* 100 gramas de concentrado de alta qualidade possui 315 kcal de energia metabolizável e 15 g de proteína digestível. ** Para calcular a quantidade necessária de leite para suprir o déficit, foram usados valores de EM de um litro de leite que varia de acordo com a composição do mesmo.
Podemos verificar que nas duas primeiras situações (1 e 2), com o volume de 4 litros de leite fornecidos por dia, a quantidade total de alimento ingerido (leite + concentrado) não foi suficiente para suprir as exigências das bezerras, tanto energética quanto protéica. Interessante, nesse caso, que mesmo o leite com alto teor de gordura e proteína (situação 2) também não conseguiu atender à demanda nutricional do animal. Importante lembrar que nessas duas situações, se o concentrado dado à bezerra for de pior qualidade, isto é, com baixo teor de energia e proteína de pior qualidade, essa situação será ainda mais grave.
Ajustando o volume para 6 litros diários (simulação 3 e 4) adequa-se o aleitamento de tal forma que consegue-se atender à demanda de energia e proteína das bezerras. Ou seja, os dois litros de leite a mais dado é exatamente o que está faltando para atender à demanda das bezerras observado no simulado 1 da Tabela 3 que é na verdade nosso esquema tradicional de aleitamento. Na simulação 4, onde foi considerado um leite com maior teor de sólidos, o volume de seis litros de leite fornece a quantidade de nutrientes acima da exigência das bezerras, podendo nesse caso trabalhar até com 700 gramas de leite/dia a menos no aleitamento. Nesse caso, uma excelente alternativa seria fornecer os 6 litros e desmamar os animais mais precocemente e ainda assim mais pesados e mais saudáveis do que o esquema tradicional. Com as situações mostradas acima podemos afirmar que: NOSSAS BEZERRAS ESTÃO PASSANDO FOME, SIM!!!
Bezerras recém-nascidas possuem requerimentos energéticos maiores para manter a temperatura corporal adequada, onde a temperatura ambiental crítica para bezerros é de 10O Celsius. Caso a temperatura ambiente esteja abaixo de dez graus, as necessidades nutricionais para mantença dessas bezerras, principalmente para manutenção da temperatura corporal aumentam, retirando energia que seria destinada ao ganho de peso para controle da temperatura do corpo. Ou seja, em estações mais frias, o requerimento aumenta, fazendo com que os 4 litros diários de leite sejam ainda mais deficitários. Este é um grande problema para regiões no Brasil onde a temperatura do ambiente cai muito no inverno.
O fato de não suprir a exigência protéica, conforme observado na tabela 3, irá interferir muito na saúde das bezerras, pois a proteína absorvida, principalmente do leite, é usada na formação do sistema imune dos animais jovens. Até a “construção” desse sistema imune a resistência às doenças é adquirida de uma boa colostragem até 12 horas após nascimento. Entretanto, essa imunidade que o colostro transfere não perdura para sempre e sim no máximo até 40-45 dias de idade. Ou seja, o não atendimento da exigência protéica das bezerras durante a formação do seu próprio sistema imunológico, que irá ocorrer durante a fase de aleitamento, diminuirá a capacidade desses animais de responder às injúrias, tornando-as mais susceptíveis a várias doenças, sendo o problema mais agravado no pós desmame.
Diante do contexto exemplificado, é preciso repensar no modo de aleitamento de nossas bezerras. Segue abaixo a descrição de uma proposta que começamos a fazer a mais ou menos um ano e que vem trazendo grandes benefícios nas fazendas que a utilizam. Essa proposta foi montada baseada nos simulados das tabelas 1, 2 e 3.
Proposta
Nos primeiros dias após o nascimento, as bezerras ainda não são capazes de ingerir grandes quantidades de concentrado, ficando o consumo por volta de 100 gramas. Assim, deve-se fornecer 6 litros de leite dividido em duas vezes ao dia, 3 litros pela manhã e o restante à tarde. Este protocolo deve ser seguido do nascimento aos 30 dias de idade.
A partir do 31º dia até os 60 dias, devem ser fornecidos 4 litros de leite apenas pela manhã e concentrado à vontade. Esta prática visa estimular o consumo da ração. Embora o requerimento nutricional aumente com o avançar da idade ou peso vivo, visto na tabela 1, não aumentamos a quantidade de leite, pois nessa época a bezerra já é capaz de buscar suprir as suas necessidades com o consumo de outros alimentos, nesse caso o concentrado. Por isso, a quantidade de leite oferecido é reduzida, lembrando que deve ser fornecido um concentrado de alta qualidade durante todo o período e à vontade.
No último mês de aleitamento, dos 61 aos 90 dias, o leite deve ser oferecido somente pela manhã na quantidade de 3 litros e o concentrado, à vontade.
A desmama, aos 90 dias, acontecerá com os animais pesando por volta de 110 kg de peso vivo. Caso os animais fiquem mais pesados por ingerir mais energia e proteína que sua necessidade, conforme ilustrado na situação 4, a interrupção do aleitamento pode acontecer mais precocemente, aos 80 dias de idade, por exemplo.A meta é desmamar as bezerras pesando por volta de 100 a 110 kg de peso, o que pode acontecer antes dos 90 dias de idade.
Se o foco é desmamar aos 60 dias de idade, fazer o esquema proposto até os 60 dias descrito acima, porém, a meta nesse caso é que o peso ao desmame seja por volta de 70 a 80 kilos. Importante: Às vezes, 30 dias de leite a mais representa muito pouco dentro do custo final dessa bezerra e não podemos esquecer que aí está sua futura nova geração de vacas.
Impacto econômico
O sistema convencional de aleitamento, consumindo 4 litros de leite até os 90 dias, soma um total de 360 litros fornecidos na criação de animais jovens. Na nova proposta, o total de litros oferecido é de 390 com desmame aos 90 dias. Se o desmame ocorrer antes, atingido o peso de 100 kg, o gasto a mais é ainda menor. Esses 30 litros, ou menos, custam barato quando se pensa na redução do índice de mortalidade, de ocorrência de doenças e de gastos com medicamentos. Menos ainda, quando se pensa no investimento em um rebanho mais saudável e, consequentemente, mais produtivo no futuro.
Caso de sucesso