Algumas emoções nos assaltam de surpresa. E essa foi bem a sensação vivida na semana passada. Dentro da programação alusiva ao Dia do Ferroviário que se comemora dia 30 de Abril, a AVL programou além do café da manhã em sua sede, um delicioso passeio de trem. E de um sábado ensolarado na companhia dos bons amigos ferroviários para um delicioso café da manhã, partimos para um domingo numa mistura de nostalgia e magia.
Mas não era somente um trem e sim uma “Maria Fumaça” toda restaurada. A partida se deu na plataforma da estação de Paraguaçu Paulista com destino a Sapezal.
É muito difícil tentar explicar a sensação que tivemos ao vê-la saindo de uma garagem localizada ao lado de um velho barracão tal qual o nosso, hoje utilizado pelo pessoal das artes marciais.
Abriram a porta e logo sua chaminé começou a fumegar. Da plataforma tinha-se a impressão que esperávamos alguém importante, tamanha era a quantidade de pessoas e a euforia do grupo. A ansiedade inquietava os participantes de tal forma que facilmente me vi em 1982, quando aos 12 anos ficávamos no início da plataforma esperando entes queridos que viriam de longe. Era uma espera angustiante olhando para a curva do cemitério na tentativa de localizar a “cara” do “Bichão”.
Ali, a espera também era angustiante, mas o “Bichão” tinha jeito e vovozinho querido.
De repente um apito soprado junto com um tufo de vapor branco anunciou sua saída da garagem, rodando em nossa direção. Era lindo, amável e imponentemente velho. Seus vagões em madeira avermelhada lembravam uma época que não vivi, mas que lacrimejou olhares perdidos no silêncio de corações viajantes vendo nos bancos de madeira um tempo que já vai longe. Saudade machucada num presente impossível – estávamos realmente numa verdadeira “Maria Fumaça”.
Talvez volte outras vezes só para reencontrar a sensação de um tempo não vivido. Talvez consiga viajar novamente por olhares perdidos ou, quem sabe, reviva o deslumbre do reencontro entre passado e presente de jovens senhores ou velhas senhoras com seus comentários detalhados de histórias eufóricas de um tempo bom.
Ser ferroviário é algo que só o coração pode explicar. É um sentimento que lhe acompanha como se o trem guardasse peças feitas de gente, coisas que o tempo não apaga, mas que a lembrança recorda.
Os anos eram duros, o trabalho era árduo, mas o prazer sempre será eterno. Deixo meu abraço a todos os ferroviários desse país, especialmente aos da nossa extinta Fepasa.
Luciano Esposto é poeta e escritor venceslauense.
Fonte : Blog do Toninho Moré em 2/5/13